quinta-feira, 30 de outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Aurelio -O dentista gago

Adoro pensar nas pessoas, espalhar notícias utilitárias, escrever poesias e conselhos. Na falta da fala correta, acidentada, tornei-me um observador obsessivo. A profissão escolhida teve a intenção de minorar minha gagueira ,ela foi agravada na,na,na adolescência com o reviver do Complexo edípico. Faço análise duas vezes por semana. Nas sessões a gagueira piora bastante, o analista paciente (sic) afirma que transfiro para ele as relações objetais que tive e tenho com meu pai. Meu terapeuta na medida que meu silêncio não se desfaz , desembesta a falar .Desconfio por vezes que isto o agrada.Conheço bem estas coisas de um não falante.

Na outra ponta, enquanto profissional da área bucal aplico um método de tratamento fantástico e simples. NÃO FALO.

Dentistas conseguem um fato cruel demais; abrir a boca das pessoas e ao mesmo tempo emudecerem-nas. O sadismo não para aí, além do sofrimento causado nas obturações, extrações, tratamentos de canal, implantes etc.etc., costumam expressar opiniões das mais variadas, sobre os assuntos em voga. E assim vão: perguntam, e falam e perguntam e falam e perguntam e falam...
As perguntas claramente são feitas para não serem respondidas. Afinal o paciente com a boca presa não consegue se expressar . Pensa mas não se expressa. Tenho uma identidade enorme com pacientes dentários, sei melhor que ninguém a estranha situação de não conseguir emitir ou responder questões quando indagados. Estranhamente vivo a posição de consultado/consulente no meu dia a dia .

Resumindo.

Todo paciente dentário vive momentos de gagueira. Eu vivo permanentemente.

Com o passar do tempo fui aprendendo o quanto as pessoas gostam de falar sem serem interrompidas. Os grupos de ajuda normalmente fornecem os dez minutos para seus participantes. Mas é apenas dez minutos como praxe comum.

Adoro escutar, e minha gagueira criou o método odontológico, já dito, fantástico e simples. ( é ótimo repetir as coisas sem gaguejar _)...

Não tenho palavras para seduzir os clientes para realizarem estranhas intervenções dolorosas no corpo, na alma e principalmente no bolso. Os materiais são caros, importados, todos de primeira qualidade. Escuto por meia hora todas as suas queixas . Mas um assunto puxa outro, começa-se a falar sobre estética bucal e quando noto já falam da barriga, das estrias, dos relacionamentos e por fim da maldita solidão humana.

Neste ponto intervenho, levanto a mão esquerda em sinal do PARE dos guardas de transito, e com a direita os encaminho a sala de choque. Acredito que o desabafo na ante-sala produz um efeito na diminuição das dores causadas pelo motorzinho impertinente. Não conheço explicações neurológicas ou psicológicas para tal fato. Mas isto é o que acontece. A gagueira para meus ganhos materiais se tornou uma ferramenta poderosa. Talvez daí meu insucesso terapêutico.Toda doença tem seu ganho secundário , e o meu se dá na forma de dinheiro.Com este me mantenho razoavelmente bem. Tenho carro do ano, celular do ano, perfume do ano, som do ano, computador do ano, a solidão de anos.

Roberto

Alguns anos antes do "Crash" na lateral do ônibus da Viação Santa Brígida, a situação já degringolava. Quem se perde nas cositas da noite, conhece o roteiro, e o meu particularmente esteve inserido no script.Os abusados coleguinhas do vinho,do uísque ,da vodka,da cerveja e da cachaça é claro, sabem muito bem do que falo.Assim perambulando pela vida tive o dia do CHEGA.Lucia independente financeiramente e atitude firme , trancou a porta ." Cai fora seu safado " foram suas últimas palavras .Gritei azedo, se isto é possível - "Logo logo pede pra voltar ,sua cadela ".-a vizinhança murmurou, luzes piscaram mas não foram páreo para meu orgulho. "Vão se fuder, tudo bunda mole, bunda mole mesmo, só tem corno aqui!"

Numa hora dessas qualquer vizinho que se preze se cala: Os meus se calaram. Pessoal de classe média baixa ,cultura mediana,souberam se comportar entre cochichos.Alguém sussurrou "psiu" educadamente, e nada mais .O prazer que o ato familiar renderia compensou umas horas mal dormidas.O "diz que diz", o apoio sagaz das mulheres,os olhares maliciosos dos maridos.Agora na ausência percebo o quanto Lucia era gostosa.Não deu trela pra vizinhança,disfarçou.Soube depois que nem encurvada ficou.O estado dos olhos em seu belo óculos escuro não foi visto,deixou assim os xeretas na dúvida.Com os olhos velados escondeu o choro noturno ou a alegria pelo sumiço deste desgraçado.Fico com as duas hipóteses.Lucia ora chorou,ora sorriu aliviada.
A rua se apresenta. As avenidas parecem mais escuras e estreitas,rodeio o bairro ,poderia ir para todos bares amados, sempre saia antes da hora do meu desejo,a saideira um pouco adiada ,descia redonda ,a noite encerrava seu ato.
O lar me esperava com a rotineira desaprovação de Lucia. Mas era o meu canto, meu lugar, com filhos, cachorros, banheiro, quarto, travesseiro, sono seguro ao lado da mulher mesmo no descolamento dos corpos. Família, açúcar no café, nem percebemos a presença, mas na ausência o gosto amargo é inaceitável.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Poesia de Aurélio

MINHA MÃE E SUAS VISITAS NOTURNAS



Quando eu pensava em morrer
Que agora já não penso
Eu sonhava coisa assim:
Uma mão pra me amparar no começo
do meu fim

Era assim
quando eu pensava,
Quando eu pensava em morrer

Agora que penso em viver
Mesmo que seja tarde
Sinto uma mão me amparar
E ela me ampara assim

Me mostra em detalhes caminhos
Que a vida,mesmo doída
Ah...com toda certeza do mundo
Esta vida não tem fim

Me leva sempre ao teu colo
E teu colo é meu SIM

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Aurelio

FIQUEI DE VER




A vida cada dia indo.Andava cabisbaixo,não ria mais,e nem piadas novas mexiam com o humor de Arnaldo.Por vezes afirmava,“fulano isso não vale nada,os chistes antigos eram melhores.Entretanto quando se afastava das pessoas conversando com seus botões, com seus cadarços,com seu isqueiro,com seu cigarro,ele bem sabia que as coisas estavam perdendo “ a graça”.
Poderia enumerar na memória ou no guardanapo nunca dispensado os motivos que o haviam transformado do rapaz radiante no homem extremamente sisudo da Rua Major Diogo. Ultimamente mal cumprimentava o porteiro do prédio,aos moradores mexia a cabeça num gesto vago tentando ser educado ,ao ver o sindico pigarreava ironicamente.Detestava síndicos,nestas horas parecia estar vivo .

Aluguel atrasado,falta de mulher,salário achatado,e vários pormenores irritantes.Inadimplente por precisão necessária os detalhes o retalhavam (telefone , Jornal,gás cortados),conta de luz ainda salva.

Ficar no escuro seria a forca ou a vela.

Da mesma forma que cedo chegava ao Banco deste saía ao entardecer.

QUIETO.

Trabalhava despercebido dos colegas,funcionário funcionava,não era um realce,mas eficiente nas tarefas repetitivas .A profissão lhe caíra bem ao jeito entediado.No mesmo ritmo sufocante da maioria dos Bancários,ele apenas se queixava,sem muito alarde,de certa dor nas costas muito mal localizada.Adaptava-se a tudo que era monótono,agora se vivia os Ctrl,Alt,Del.

Não era saudade,sabia muito bem,mas a mente obsessiva,teimosamente,guardava lembranças da velha Remington,dos carbonos,das borrachas,dos carimbos,e principalmente,da mesa cheia de papéis.

O horário de trabalho ainda era o mesmo,das 9 as l8,duas horas extras,e uma para o almoço no Gervásio.Vinte anos o mesmo tempero,o mesmo cardápio,o mesmo cenário.

Chegava cansado,agradecia a Deus por isso,bolinava os calos,sentado na poltrona de veludo vermelho,saboreava o café solúvel rapidamente preparado no velho microondas, herança de sua mãe.
Os olhos na TV,como o personagem de “Muito alem do Jardim(Peter Sellers)",Arnaldo apertava aleatoriamente, o controle remoto.Mudava de canais dezenas de vezes por hora.Tirava o som e ficava paralisado nas imagens.Fitava sem mexer um nervo na face, elas apenas refletiam a sua falta de reflexão.

Aos domingos, almoçava com a irmã ,as l7 horas visitava Dorotéia.Pagava pouco,era cliente fiel desde que sisudo.Religiosamente,suas visitas não duravam mais que l hora uma hora e meia.


Por vezes,sentia e chorava poucas lágrimas.Arnaldo culpava a solidão.”Aurelio to sofrendo de insônia,conhece alguma erva natural”?


Fiquei de ver ...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Emails de Aurélio - Pretinho Básico

"E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos"

(Caetano e Gil ..HAITI )



Gente, essa é uma incógnita!

Temos reparado que as pessoas adotam mais filhotes do que adultos, mas até aí, infelizmente é um fato ao qual já estamos acostumados à conviver. Só que também nos deparamos com outro fato curioso: as pessoas preferem filhotes coloridos. Sabe, aquele marronzinho, branquinho, amarelinho? Ou aquele preto e marrom, aquele amarelo e branco, ou cinza?

Reparamos isso porque temos diversos filhotes pretos para adoção, mas quase todos ficam pra trás dos coloridinhos. Estamos tentando entender: afinal, por que as pessoas preferem os filhotes coloridos ao invés dos pretinhos? Eles são peludos como todos os outros: eles também precisam de carinho, de um dono, de atenção. Também correm o risco de não serem adotados, também sofrem com o abandono.

Para aqueles que não sabem, é muito mais provável que nossos cães sejam adotados enquanto filhotes. Depois que crescem, eles perdem praticamente 90% de chances de conseguirem um dono, e ficam nos abrigos. Muitos estão lá desde filhotes, nunca ganharam a oportunidade de ter um lar, uma casa, nunca conheceram o aconchego de um colo (só do nosso, mas não podemos fazer isso todos os dias).

Pensando nisso, resolvemos então escrever uma...

... lista de vantagens em adotar filhotes pretinhos!

- Ele não suja e não mancha;
- Você pode camuflá-lo no escuro e quando um ladrão entrar, ele vai surpreendê-lo com uma mordida sem ele conseguir ver de onde vem (não doamos animais com essa intenção, mas veja bem, se acontecer você está preparado);
- Se você sair com ele na neve, será bem notado (ta, não temos neve no Brasil, mas quem se importa?);
- Caso você saia de casa vestindo roupa social preta, ela irá cheia de pêlos e ninguém nem vai notar;
- Em uma festa black tie você poderá levá-lo na bolsa sem que ninguém note que é um cachorro;
- Ele pode entrar debaixo do seu carro e se sujar de graxa, que ele sairá da mesma cor que entrou e você nem vai notar – o que evita estresse emocional para você e sua família;


EMAIL Recebido de Minha Sobrinha adotiva ..Fabiana ..(branquinha )




- *. Para ver o perfil de **Fabiana, clique em: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=10031187560669262475

* * *